Todos nós sabemos que não é fácil viver em sociedade. Trânsito, condomínio, trabalho, escola e para completar, dentro da nossa casa, com os nossos familiares. Para isso o ser humano criou regras, leis, códigos, manuais. Obviamente, tais procedimentos variam de país para país, o que acaba sendo objeto de celeumas: afinal de contas não estaríamos sendo excessivamente rigorosos ou permissivos em determinados assuntos ? Sem entrar no mérito da questão, pretendo apresentar algumas questões que serão objeto de comentários posteriormente.
Cena 1: Véspera de Natal, supermercado completamente lotado, filas para pão, queijo, carne e principalmente, pagar. Algumas pessoas para facilitar o martírio, acabam deixando alguém na fila de pagamento enquanto agilizam as compras. Não tomarei partido, posto que não conheco, pelo menos aqui no Brasil, lei que incentive, criminalize ou condene tal prática. Naturalmente, quando procuramos uma fila, escolhemos a mais curta, ou a que tiver carrinhos menos cheios. Então, de repente, você descobre que o companheiro da frente, não tem apenas uma cesta e sim, mais um carrinho lotado de compras que a esposa acabou de trazer. E você está atrasado. Ou apertado. Ou com dor de cabeça. Não importa.
Cena 2 : Quinze para uma da manhã, logo o restaurante vai fechar. Gerente, garçons, cummins e cozinheiros aguardam ansiosamente o fim do expediente, alguns estão dobrando. Neste momento chega um casal num clima romântico, entrada, prato principal, sobremesa, vinho, balde de gelo, confidências e por aí vai. E nem aí para a hora do Brasil.
Cena 3 : Este foi um conselho que uma amiga minha me pediu. Apaixonada pelo namorado, mas entristecida com algumas de suas atitudes, bolou um plano inspirado em O Outro Lado da Meia-Noite, de Sidney Sheldon. Faria chegar ao conhecimento do amado que precisou viajar às pressas, sem deixar local de destino, data de retorno, motivo, nada. Sem nextel, sem responder e-mail, orkut, nada. Gostaria que ele pensasse que ela sumiu. Dizem por aí, que homem só dar valor quando perde ou acha que perdeu.
Acredito que todos já tenham formado em seus pensamentos argumentos prós e contras; estamos numa democracia e isto é saudável. Agora o que eu gostaria de deixar registrado, como desejo de uma sociedade pós-judicial é o seguinte: e se fosse você? Se você fosse o garçom, a pessoa atrás do carrinho, a pessoa amada sem notícias. Gostaria que fizessem isto com você ?
Uma passagem do livro de Mário Puzo que deu origem ao filme O Poderoso Chefão, um mafioso fala para o filho que um advogado rouba com uma pasta, o que um bandido rouba com uma arma. Todos nós sabemos que muitas leis foram feitas para favorecer os mais ricos ou criminosos. Agora e se fosse com você, seu pai, sua mãe, seu filho, como você se sentiria?
Acredito sinceramente que quando começarmos a nos colocar no lugar do outro, conseguiremos construir um mundo muito melhor para se viver.