" Estar sozinho é um dos caminhos pra esta busca
Que quando ofusca é porque eu não sei como agir
Fugir não aceito, nem meu peito aceitaria
Durante o dia coração é pra sorrir
A noite vem, e eu sei que é muito mais difícil
É feito míssil em pleno céu da noite escura
E essa procura eterna dia noite e madrugada
E não há nada que dissolva esssa tortura, nada
E o coração se encanta por toda pessoa,
que numa boa saiba como me tocar(...)"
Busca, por Fábio Jr.
Começou na adolescência, o que era absolutamente compreensível; coisas da idade.
Romântica que só ela, escrevia versos, poemas, papel de carta( ainda existe isso ?),
se apaixonava perdidamente, chorava, sofria, como em um romance de José de Alencar.
O prólogo era sempre o mesmo: os olhos eram lindos, ou o sorriso, ou o jeito de virar o rosto, a história de vida( tão sofrido, perdeu a mãe tão cedo...) aliás, tinha uma predileção pelos sofredores ou problemáticos. Encantava-se dava presentes, ligava, fazia gostos e desgostos, só vendo. Logo percebeu que este comportamento não era normal, apaixonar-se tanto e tantas vezes.
Pior ficou quando chegou na maturidade. O mesmo comportamento, com o agravante que não tinha mais a desculpa da inexperiência, já sabia como iria terminar. O que no começo era apenas abandono, terminou por transformar-se também em enfado: agora também ela terminava, não queria mais, conhecera outro.
E o prazo invariavelmente terminava como as dedetizações; seis meses. Por quê ? Agora estava se tornardo talvez um pouco neurótica. Se apaixonava. Perdidamente. Três meses depois conhecia outro. Se apaixonava novamente. Mas e o atual ? Não posso terminar com ele. Vai que com esse não dá certo, e eu fico sozinha. Sem os dois. Não posso. Não consigo ficar sozinha. Sentia uma carência muito grande. E então começava a enumerar defeitos e qualidades dos amantes. O Vítor beija bem, mas transa mal. E não é carinhoso. Mas me liga. O Ricardo nem beija, mas transa muito bem. E quer compromisso sério. Mas mora longe. O ideal seria juntar as qualidades do Ricardo no Vítor. Se o Ricardo mudasse. Ou o Vítor. Dali a pouco, enjoava dos dois. E então precisava procurar outro, que a fizesse esquecer o Ricardo e o Vítor, já que não sabia viver sozinha. E tome cigarro, álcool, remédios, depressão certa. E sobra pra quem ? Euzinha aqui, amiga para todas as horas :
- Me ajuda Flor, eu não sei mais o que fazer. Eu não queria ser assim, me apaixono demais. Fácil. Veja agora a minha situação, louca pelo Daniel, que conheci no Ano Novo. Foi tudo tão lindo. Ele me beijou, como há muito eu não era beijada. Foi carinhoso, romântico, educado. Transou maravilhosamente bem. E é lindo, tem que ver parece uma pintura, um dos mais belos que já vi. E os dentes ? Branquinhos. Um sorriso de príncipe. E quando ele tirou a roupa. Mais bonito ainda. Trocamos telefone. E ele não ligou. Pensei que tivesse perdido meu número. Só consegui falar com ele seis dias depois. Nos encontramos novamente e foi mais lindo ainda. Dormimos juntos como um casal de adolescentes, abraçados, tomamos café da manhã. Se eu morresse naquele dia morreria feliz.
- E aí ? - perguntei eu.
- E aí que eu estou com medo de ficar telefonando muito, de pressionar, de ele achar que eu estou sendo chata, de fazer alguma coisa errada, de perdê-lo, e fico angustiada, louca para ligar, mas percebo que ele não sente a mesma inquietação, agora mesmo chamei para ir ao cinema e ele disse que já tem um compromisso marcado com alguns amigos, que vai deixar para a próxima. Será que ele gosta de mim com a mesma intensidade ?
- Difícil, né ? - respondi eu. - Já dizia o poeta. " Amar é sofrer, eu vou te dizer..." Sabia que todas nós mulheres somos fotógrafas amadoras ?
- Fotógrafa eu, como assim ?
- Fotógrafa, sim. De quinta. De casamento. De batizado. É só conhecermos um cara maravilhoso, que já queremos "eternizar o momento", como se isto fosse possível. É por isso que no seu caso e no de muitos outros eu indico logo o Budismo, a religião mãe da sabedoria. Minha querida amiga, nada é eterno, nada dura para sempre. Você nasceu sozinha e sozinha morrerá. Precisa aprender a lidar com isto. Não adianta se prender a namorados, filhos marido, bens materiais. Nitiren Daishonin, o sábio budista do séc. XVIII já dizia: a luz do sofrimento é o apego. Enquanto não entendermos a transitoriedade da vida, estaremos sempre procurando a felicidade no outro, ou culpando os outros pelos nossos infortúnios. E isso não vale só para as coisas boas não, para as tristezas também. Tá, ele foi maravilhoso. Que bom. Sabe lá se ele é assim no dia-a-dia ? E se for ? Se for melhor ainda. Mas não sofra antes da hora. Quem morre de véspera é peru de natal. Viva o hoje. Ele vai sair com os amigos? Saia com as suas amigas. Tome um sorvete, veja um filme, coma um Bic Mac. Viva. Homem detesta ser pressionado, cobrado. Se entrar por este caminho, vai ficar parecendo o chefe dele. Deixa que ele te ligue.
- E se ele não ligar ?
- Então ele não está apaixonado por você, foi bom, foi maravilhoso, mas ele já está em outra, ou nunca esteve na sua, ou não quer compromisso, ou milhões de coisas; não importa. Cuide da sua auto-estima. Sem esta necessidade absurda de estar com alguém. Sabe o que o teu caso me lembra ? Uma frase famosa de pára-choque de caminhão: evite a ressaca, mantenha-se bêbado.
- Não entendi ?
- Entendeu sim. Para curar a dor de um amor, procure um outro amor. É melhor estar mal-acompanhada do que só. Eu prefiro Cazuza: " a pior solidão é a solidão a dois."
- É acho que você tem razão. Te adoro, flor. Você é uma amiga e tanto.
- Eu também sua boba, sabe que a tua história vai pro blog, né?
- Desse jeito acabo ficando famosa, ainda bem que ninguém me conhece.
" Paixão: doença em que o paciente não quer ser curado."
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