domingo, 27 de novembro de 2011

De amor e de sombra, por Isabel Allende


Esta é a história de uma mulher e de um homem que se amaram profundamente, salvando-se assim de uma existência vulgar. Eu a levei na memória conservando-a para que o tempo não a desgastasse e é só agora, nas noites frias desse lugar, que finalmente posso contá-la. Eu o farei por eles e por outros que me confiaram suas vidas dizendo: toma, escreve, para que o vento não o apague.

sábado, 26 de novembro de 2011

Simplesmente Jorge


Tenho horror a hospitais, os frios corredores, as salas de espera, ante-salas da morte, mais ainda a cemitérios onde as flores perdem o viço, não há flor bonita em campo-santo. Possuo, no entanto, um cemitéro meu, pessoal, eu o construí e inaugurei há alguns anos quando a vida me amadureceu o sentimento. Nele enterro aqueles que matei, ou seja, aqueles que para mim deixaram de existir, morreram: os que um dia tiveram minha estima e a perderam.
Quando um tipo vai além de todas as medidas e de fato me ofende, já com ele não me aborreço, não fico enojado ou furioso, não brigo, não corto relações, não lhe nego o cumprimento. Enterro-o na vala comum de meu cemitério - nele não existem jazigos de família, túmulos individuais, os mortos jazem em cova rasa, na promiscuidade da salafrarice, do mau-caráter. Para mim o fulano morreu, foi enterrado, faça o que faça já não pode me magoar.
Raros enterros - aindabem! - de um pérfido, de um perjuro, de um desleal, de alguém que faltou à amizade, traiu o amor, foi por demais interesseiro, falso, hipócrita, arrogante - a impostura e a presunção me ofendem, fácil. No pequeno e feio cemitério, sem flores, sem lágrimas, sem um pingo de saudade, apodrecem uns tantos sujeitos, umas poucas mulheres, uns e outras varri da memória, retirei da vida.
Encontro na rua um desses fantasmas, paro a conversar, escuto, correspondo às frases, às saudações, aos elogios, aceito o abraço, o beijo fraterno de Judas. Sigo adiante, o tipo pensa que mais uma vez me enganou, mal sabe ele que está morto e enterrado.

Navegação de Cabotagem, págs. 3 e 4.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Baixada Fluminense.

Não são poucas as promessas que somos condicionados a fazer pelos nossos pais na infância. Voltar cedo para casa, não fumar, não brigar na escola, respeitar o professor. A maioria não é cumprida, obviamente, é parte do processo educacional a contestação de regras.
Eu nunca esquecerei de uma quando eu tinha uns 8 ou 9 anos que mamãe me obrigou a fazer, na verdade um juramento.
- Jure.- ela afirmou.
- Tá mãe, eu juro. Mas por quê ?
- Por que é perigoso.
Confesso que não dei muita bola, não que eu não quisesse cumprir, mas porque eu nunca fui fã de moto.
Se bem que uma coisa é você comprar uma moto, na maioria das vezes em dezenas de meses, outra é você ganhar. Pois é, eu recebi uma novinha, numa promoção de jornal. Nem assim fui tentado a ficar com ela. Vendi ainda na concessionária.
Ontem eu fui a um lugar que eu nunca tinha ido na vida, São João de Meriti na Baixada Fluminense. Dentro do ônibus, presenciei um acidente gravíssimo com uma moto e um caminhão. O rapaz ficou caído no chão todo machucado, quando uma cena rara me fez chorar. O motorista da carreta desceu, desesperado, preocupadíssimo, como se fosse um filho dele ou um parente, quase uma mãe. Agarrou-o, cuidando e providenciando ajuda pelo telefone.

A gente sabe que as atitudes ruins são a regra, mas são as exceções que nos fazem felizes e permitem, ainda, a acreditar nas pessoas.

domingo, 20 de novembro de 2011

Best Thing I Never Had, por Amanda Flores.


Faz sucesso no Brasil uma música da Beyoncé chamada Best Thing I Never Had. Eu traduziria como A melhor coisa que eu nunca tive, ou a melhor coisa que nunca me aconteceu. Fala de um amor que não chegou a dar certo por que ela descobriu que ele não era um cara legal. É uma balada. Engraçado como nós brasileiros adoramos um xarope. Nos EUA a música, assim como cd não fizeram muito sucesso. Faço parte da turma das adocicadas.
Mas voltando ao single, me fez lembrar não dos amores que não deram certo, mas dos amores que poderiam ter funcionado. Sabe aquele flerte de fila de supermercado, metrô, colega de trabalho, que você fica imaginando " ah se eu pudesse, o meu dinheiro desse, se ele me quisesse..." Muitas vezes o interesse é recíproco, mas você é casada, ou está namorando, ou não tem tempo.
Tive vários amores assim, platônicos. Alguns são meus amigos até hoje, e conversamos sempre sobre nossa platonice. Quase sempre chegamos a conclusão que foi melhor assim, guardaríamos a fantasia de um sonho que não aconteceu.
Algumas amigas minhas só chegaram a esta conclusão depois de separadas, quando o estrago já estava feito, " ah Amanda, eu deveria ter apenas namorado, ele é um amigo maravilhoso, mas péssimo marido." O pior são aquelas que exclamam " eu só atraio homem casado". Ora, homem casado tem DNA, fica com ele quem quer. Quando chegam com aquela conversa marota de que tem horário para chegar em casa, marca de aliança no dedo, fim de semana compromissado...tô fora.
Até porque, não dá pra namorar todas as pessoas interessantes que existem da Terra, né ? O seu é único, especial, maravilha, valorize. E fique com a nostalgia dos outros que ficaram pelo caminho. Faz parte.

" Não possuir algumas das coisas que desejamos é parte indispensável da felicidade."
Bertrand Russel.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Budismo Nitiren

A recitação do NAM-MYOHO-RENGUE-KYO ou daimoku é a base do Budismo Nitiren. Transmite paz, segurança, força, coragem assim como promove a transformação do karma. Eu pratico há vinte e quatro anos e é a única coisa regular que tenho feito nas duas últimas décadas, além de comer, ler e dormir.
Milhares de pessoas tem experimentado a recitação do mantra com significativas mudanças em suas vidas. Às vezes me perguntam se existe uma imposição para a prática diária e eu digo que não. No meu caso existe sim, uma necessidade. Eu preciso da meditação para controlar os meus impulsos irascíveis, ansiedade, impaciência e mau humor. Sem a oração, quando o Brasil real emerge com seus avanços de sinal, corrupção, furas-fila, burocracia, acabo mostrando para as pessoas o meu lado negro da força.
Certa ocasião durante uma entrevista para a PLAYBOY, o ator Bruce Willis foi confrontado com uma pergunta sobre os seus 6 seguranças:
"- Qual a finalidade de tantos homens para proteger um ator filmes de ação, praticante de artes marciais?"-, perguntou o repórter.
Ele respondeu que tinha muita dificuldade de lidar com determinados fãs e tinha medo de perder o controle com alguns deles e acabar com algum processo na justiça. Faz sentido.
Parafraseando Bruce Willis, não faço daimoku para me proteger das pessoas. Faço daimoku para proteger as pessoas de mim.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Zezé di Camargo e Luciano, por Amanda Flores

Impossível não se emocionar com a briga e reconciliação de Zezé di Camargo e Luciano, mesmo quem não é fã da dupla. Assistindo a entrevista dos dois no Fantástico, ficamos sabendo que no auge da discussão, o Zezé exclamou: pode ir embora, ninguém vai sentir a sua falta. Imagine ouvir do seu irmão, independente do que motivou a briga.
Depois do desenlace( o Luciano não admitiu mas é óbvio que quem mistura Rivotril com uísque está querendo se matar, ainda que de uma maneira involuntária), dois dias na UTI, eu só posso chegar a uma conclusão: O Zezé deu muita sorte. Explico melhor.
Imagine como iria ficar a cabeça dele se o Luciano tivesse morrido. Por mais que fizesse terapia, orasse, esse remorso iria corroê-lo pelo resto da vida. Eu tive um namorado que durante anos tinha pesadelos horríveis. Acordava durante a noite perguntando pela mãe falecida, pedindo perdão. Depois de muito tempo ele acabou confessando que quando ela morreu estavam brigados. E por um motivo bobo, birra infantil. Obviamente, não é fácil. Mas o objetivo é sempre esse, evitarmos ao máximo despedirmo-nos das pessoas com palavras desagradáveis.

Se tiver que brigar, brigue. Mas, acima de tudo, faça as pazes.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Tecnologia que aproxima, modernidade que afasta

Cinco mil amigos no facebook, 500 seguidores no Twitter. Dormindo sozinho no sábado à noite. Apesar das vantagens das maravilhas tecnológicas, sentimo-nos cada vez mais sozinhos.
E por quê ? Porque Facebook compartilha, mas não afaga. Twitter comenta, mas não consola. Email divulga, mas não conforta.
Obviamente eu não sou contra os avanços da modernidade. Facilitam, ajudam, simplificam e, principalmente, encantam com suas inovações futurísticas. Mas nunca serão substitutos de ternura, amor, amizade e sentimentos que não podem nem devem ser engavetados. Mais do que compartilhar uma foto, comentar uma notícia ou cutucar um flerte, não devemos esquecer que os momentos mais importantes são aqueles que nenhuma máquina ou interface poderá suprir: aqueles em que, ainda que ninguém esteja vendo, guardam na memória algo mágico, terno, afetuoso e, sobretudo, real.