segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sem trabalhar

   Não participava de greves. Até acreditava que muitas das reivindicações eram pertinentes.  Mas é que não concordava que o direito de alguns interferisse na rotina de milhares. E é o que na maioria das vezes acabava acontecendo.
   Obviamente fazia parte da minoria, o que lhe proporcionava algumas inimizades, um ou outro dissabor.  Mas também não julgava.  Talvez se não tivesse a oportunidade de vir do interior pensasse da mesma forma. No fundo gostava de trabalhar. E além do mais, fora tão difícil passar no concurso. Os meses estudando, as noites mal dormidas... E agora greve?  Não, não, para ele isso não era possível.
   Imagina se fosse médico? Não atenderia um paciente? E um professor? Negaria a um estudante o conhecimento?  Policial deixaria de prender criminosos? Muito mais voltar para a iniciativa privada, de onde viera, ainda que ali a vida fosse mais difícil, embora muitas vezes recompensadora.
   O labor como fonte de orgulho, seu pai tantas vezes ensinara. O serviço público não era perfeito, mas nada que corroborasse uma greve que acabava prejudicando quem nada tinha a ver com ela.

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