A campainha toca e, para a minha surpresa, meu amigo Mário Sérgio.
- Parei de fumar.
- Parabéns - falei - eu ainda estou tentando.
- Parabéns, reticências, parei obrigado, estou sentindo a maior falta.
- Obrigado, por quem?
- Por todos. Trabalho num centro comericial, e proibíram inclusive nas varandas. Meu bar expulsou-me para a calçada, a mercê dos ladrões, poluição e pedintes em geral. E a última reunião do condomínio eliminou até as áreas comuns.
- Sobrou a sua casa...
- Rodrigo, eu trabalho 14 horas por dia, durmo cinco, meu cachorro nem me reconhece mais, como arranjarei mais tempo para fumar em casa?
- Mas...
- E isso não é tudo, eu estou preocupado, sem saber aonde tudo isso vai parar. Eu adorava o bingo nos finais de semana, não vivo sem carro, daqui a pouco vão proibir até o jogo do bicho.
- Mas é proibido.
- Então alguém precisa avisar os bicheiros
- Debochado.
- Sério, cara estão proibindo todas as nossa diversões.
- Esta é a vantagem de viver num regime totalitário... Mas pondo a brindeira de lado eu acho que esta é uma das maiores contradições do ser humano. Nós precisamos do governo para tomar medidas que beneficiarão a nós mesmos. Sabemos que a banca sempre ganha, que dirigir depois de beber é perigoso, que o cigarro dá câncer, mas só tomamos as decisões fatídicas quando vem a dolorosa. O risco é exagerarmos e virarmos um imenso USA, onde náo se pode quase nada, a não ser debaixo dos panos. Mas eu ainda acho que é melhor pecar por excesso do que por omissão.
- Rodrigo?
- Que é?
- Posso tomar uma dose do teu uísque?
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