quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Makiguti e sua relevância histórica

Poucas pessoas conhecem a história do professor japonês Tsunessaburo Makiguti. Uma pena. Seus valores, suas crenças e, sobretudo, sua coragem em denunciar as injustiças deveriam seguir de exemplo num tempo em que a convivência pacífica tem sido usada como pretexto para varrermos para debaixo do tapete comportamentos errôneos que, na maioria das vezes, corroem organizações que se pretendem reformadoras. Explico melhor.
Makiguti foi um reformista. Fundador da Soka Gakkai, organizaçao leiga que promove o Budismo em mais de 190 países, morreu em uma prisão japonesa na década de 40 por opor-se à unificação religiosa imposta pelo governo militarista japonês. Tendo dedicado sua vida à educação, Makiguti combateu firmemente a postura de alianças com comportamentos erráticos, em nome de um bem maior, tão bem propagada por Maquiavel e o seu os fins justificam os meios.
Para isso, era necessário coragem para denunciar veementemente os traidores da pátria que incentivavam o militarismo, os falsos amigos, as falhas de caráter. E por que isto é tão atual?
Porque num mundo dominado pelo relativismo, tornou-se comum tolerarmos "pequenos deslizes", em nome de um falso pluralismo que tende a passar por cima de desvios éticos em nome de um objetivo maior que validaria tais atitudes. E olha que eu nem estou falando de questões político-partidárias, embora venha ao caso em nosso momento político.
Mais do que nunca é preciso incentivar as boas práticas de relações humanas em detrimento dos conchavos, tapinha nas costas e sorrisos amarelos anunciadores de falsas promessas.

" Se você não tem coragem de ser inimigo do mal, então não pode ser amigo do bem."
Tsunessaburo Makiguti

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ele dormia sorrindo, por Amanda Flores

Depois de ler este post aí embaixo eu não teria como não lembrar do Sandrinho. Eu não sei se é circunstância da minha vida ou característica da humanidadade em geral, mas cabe a pergunta: por que algumas pessoas, aquelas especiais, que marcaram, somem, desaparecem?
Na era da internet, até parece um contrasenso, mas é verdade, Nem email, telefone, endereço, referências, amigos em comum, nada. As pessoas desagradáveis, rancorosas, maledicentes, antipáticas, essas estão em todo lugar, não precisam de convite, proliferam a cada esquina.
Como eu poderia falar do Sandrinho? O Sandrinho morou comigo uns seis meses, mas nunca tivemos nada, amizade mesmo, embora muita gente não acredite. Nessa época ele namorava uma garota que nunca me apresentou, mas sempre falava dela. Prestativo, brincallhão, amigo-uma vez ele cismou de arrumar e pintar o apartamento todo, imagine-ficou lindo.
Mas o que mais me impressionou nele foi uma característica que eu nunca mais vi em ninguém. Certa vez ao chegar em casa tarde da noite eu encontrei-o dormindo no chão da sala, no chão que loucura, e ele nem estava bêbado, na verdade ele não bebia. E eu fique observando a cena quando reparei: ele estava sorrindo.
Eu nunca tinha visto isso. Alguém que sorrisse enquanto dormia. Passou a ser o meu passatempo. Volta e meia eu o pegava dormindo-sorrindo e ficava lá, um tempão observando como se fosse a coisa mais bonita do mundo. E para mim era, assim como um pôr-do-sol.
Tem uns seis anos que ele se mudou e eu nunca mais o vi, mas de vez em quando eu lembro do sorriso e do sono tranquilo de quem não fez mal a ninguém, o sono dos justos.

Brigas e perdas.

Chegou com aquele jeitinho de bezerro desmamado, pálpebras caídas, olhar melancólico, sorriso contido. Busquei seu coração:
- Que foi ? Vocês brigaram, né?
- Como nunca antes.
- Mas você ainda gosta dele?
- Da mesma forma como quando o conheci.
- E não é isto que realmente importa? Algumas pessoas tem essa necessidade de ficar um tempo sozinhas. É um momento introspectivo, reflexivo, por muitas vezes necessário; buscar na mente a referência particular.
- Eu não tenho essa preferência. Prefiro refletir a dois.
- Entendo. Eu também. Acredito que por ter passado muito tempo sozinho, procuro na maioria das vezes estar junto. A não ser que eu esteja dormindo.
- É que eu fico conjecturando. Na verdade eu fico imaginando coisas, querendo saber em que está pensando...
- Compreendo, mas isto é impossível. Você nunca saberá o que alguém está pensando. A não ser que ele te diga. E ainda assim você precisa acreditar. Mas eu acho que isto não é uma questão fundamental. Mais do que confiar no outro, você precisa aprender a confiar em si mesma.
- E se ele for embora?
- Guarde o que ficou.
- Como assim ?
- Guarde os bons momentos, os risos, os abraços, as fotos, a lembrança. E você perceberá que mesmo as pessoas que nos abandonam deixam guardados dentro da gente algo místico, que é só dela, único, que fará com que a nossa visão de mundo seja enriquecida, talvez nem tanto como experiência, mas também ternura.
- Ainda assim prefiro ele.
- Então não desista e lute.

Os conselhos são de graça, mas o nosso coração, somos nós quem conhecemos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pra mim, pra você, por Amanda Flores

Naquele tempo ele ainda era bom.

Juntávamos palitos de sorvete kibon que depois ele, com habilidade, transformava em aviões, cinzeiros, arranjos florais, assim como subíamos em árvores como trepadeiras, ele dizia. Eram tardes afoitas, eu com indisfarçáveis vestidos de chita, sandálias havaianas ou descalça, para desespero de vovó que não entendia sorrisos espontâneos nem amores esporádicos.
Eu buscava em seus abraços a compreensão de um mundo particular, tão puro, tão meu e, ao mesmo tempo tão entregue a sobressaltos, horários irregulares, beijos roubados e suores noturnos. É claro que naquela época eu não fazia idéia da brevidade das nossas incursões paradisíacas, muito menos das lembranças que tais momentos proporcionariam décadas mais tarde, não como refúgio, mas como bálsamo para uma realidade desfavorável.
Era um tempo de certezas, comedimentos, experiências e, acima de tudo, conhecimento. Eu era como tela incompleta à espera de pinceladas suaves, imprecisas e delicadas que ao seu toque, derretia-me como uma vela acesa.
De como o álcool mudou uma cumplicidade preestabelecida, pouco importa. A cena que eu guardei no meu baú, foi a do seu sorriso doce, alegre, espontâneo e que durante uma tempo em minha juventude, eu compartilhei como se nunca fosse perdê-lo.