Naquele tempo ele ainda era bom.
Juntávamos palitos de sorvete kibon que depois ele, com habilidade, transformava em aviões, cinzeiros, arranjos florais, assim como subíamos em árvores como trepadeiras, ele dizia. Eram tardes afoitas, eu com indisfarçáveis vestidos de chita, sandálias havaianas ou descalça, para desespero de vovó que não entendia sorrisos espontâneos nem amores esporádicos.
Eu buscava em seus abraços a compreensão de um mundo particular, tão puro, tão meu e, ao mesmo tempo tão entregue a sobressaltos, horários irregulares, beijos roubados e suores noturnos. É claro que naquela época eu não fazia idéia da brevidade das nossas incursões paradisíacas, muito menos das lembranças que tais momentos proporcionariam décadas mais tarde, não como refúgio, mas como bálsamo para uma realidade desfavorável.
Era um tempo de certezas, comedimentos, experiências e, acima de tudo, conhecimento. Eu era como tela incompleta à espera de pinceladas suaves, imprecisas e delicadas que ao seu toque, derretia-me como uma vela acesa.
De como o álcool mudou uma cumplicidade preestabelecida, pouco importa. A cena que eu guardei no meu baú, foi a do seu sorriso doce, alegre, espontâneo e que durante uma tempo em minha juventude, eu compartilhei como se nunca fosse perdê-lo.
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