terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ele dormia sorrindo, por Amanda Flores

Depois de ler este post aí embaixo eu não teria como não lembrar do Sandrinho. Eu não sei se é circunstância da minha vida ou característica da humanidadade em geral, mas cabe a pergunta: por que algumas pessoas, aquelas especiais, que marcaram, somem, desaparecem?
Na era da internet, até parece um contrasenso, mas é verdade, Nem email, telefone, endereço, referências, amigos em comum, nada. As pessoas desagradáveis, rancorosas, maledicentes, antipáticas, essas estão em todo lugar, não precisam de convite, proliferam a cada esquina.
Como eu poderia falar do Sandrinho? O Sandrinho morou comigo uns seis meses, mas nunca tivemos nada, amizade mesmo, embora muita gente não acredite. Nessa época ele namorava uma garota que nunca me apresentou, mas sempre falava dela. Prestativo, brincallhão, amigo-uma vez ele cismou de arrumar e pintar o apartamento todo, imagine-ficou lindo.
Mas o que mais me impressionou nele foi uma característica que eu nunca mais vi em ninguém. Certa vez ao chegar em casa tarde da noite eu encontrei-o dormindo no chão da sala, no chão que loucura, e ele nem estava bêbado, na verdade ele não bebia. E eu fique observando a cena quando reparei: ele estava sorrindo.
Eu nunca tinha visto isso. Alguém que sorrisse enquanto dormia. Passou a ser o meu passatempo. Volta e meia eu o pegava dormindo-sorrindo e ficava lá, um tempão observando como se fosse a coisa mais bonita do mundo. E para mim era, assim como um pôr-do-sol.
Tem uns seis anos que ele se mudou e eu nunca mais o vi, mas de vez em quando eu lembro do sorriso e do sono tranquilo de quem não fez mal a ninguém, o sono dos justos.

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