sábado, 27 de setembro de 2008

Marcelo

Eu tento guardar dele os momentos gloriosos, quando ele estava no auge.
Jogávamos bola toda tarde no aterro do flamengo, após as aulas no Deodoro. Juntos, descobrimos as primeiras namoradas, o medo de não passar de ano, a angústia dos períodos de férias.
Uma vez ele estava fazendo aniversário e o pai dele andava lá pelo Amazonas, a trabalho. Tentamos fazer uma supresa, com uma dessas tortas de padaria, mas é impossível esconder quaquer coisa do Marcelo. Não só descobriu, como lambuzou todo mundo de creme e furou todos os balões de aniversário. Ele era assim brincalhão,diverto, sacana. Engrançado eu falar no pretérito como se ele tivesse morrido, mas parece que eu não o conheço mais.Difícil doença que descaracterize tanto uma pessoa como a esquizofrenia.

Como um amigo que brinca com vc a adolescência inteira, faz planos para o vestibular, namora, de repente aos 19 anos começa a andar nu pela cidade, a não falar coisa com coisa, achar que tem alguém querendo matá-lo, recusar-se a tomar banho e a sair de casa.Foi um choque para todos nós.
E o que se seguiu, não foi menos aterrador: internações, choques elétricos, remédios pesadíssimos, Pinel, fugas, a realidade de país terceiro-mundista.
É, Marcelo, talvez eu não possa fazer muito por você, meu amigo, não mais do que enviar-te orações para que um dia você consiga a cura para o teu mal. De toda forma fica o teu exemplo de vida, de luta e de superação e a tua história, principalmente para os que só pensam em dinheiro, prazeres fúteis e revista Caras.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

A vida sem cigarro

Confesso que dessa vez é diferente. Sim, eu sei que já parei de fumar diversas vezes, esses anos todos, mas agora eu tenho um sentimento completamente novo. É uma verdadeira terapia. Pela primeira vez, eu não sinto vontade de fumar. Este fim de semana passei pela primeira prova de fogo, rodeado de amigos, cerveja, petiscos e nada.
Longe de mim se transformar em um chatonildo, militante antitabagismo. Entendo todo o ritual que é, as lembranças evocadas, os enredos holliwoodianos. Lembro-me com saudade e isto basta.
Acredito que está contribuindo para isto a minha estabilidade emocional, não se deixar levar pelas circunstâncias.
São nessas horas que lembramos das loucuras que já fizemos por um rogaci, tipo rodar várias ruas de madrugada em busca de um posto ou bar abertos, andar por uma praia deserta atrás de um louco com isqueiro ou fósforo, revirar a casa atrás do dito cujo sedento de nicotina, queimar os dedos, fazer um rombo naquele casaco caríssimo, quase tocar fogo na casa ao dormir com o cigarro aceso, fumar escondido em corredores de shoppings, desperdiçar a água de uma descarga inteira para apagar o flagrante...
Realmente, não vale a pena.

domingo, 21 de setembro de 2008

A farsa de Diogo Mainardi

Toda semana ele está lá, pago religiosamente, pau mandado que é de seus editores, para denegrir a imagem de todos os brasileiros. O que me surpreende, são os leitores de uma revista tão conceituada, inclsive os que concordam com suas idéias, ainda não terem percebido que ele zomba de todos nós inclusive dele mesmo.
Ele diz que somos a escória da humanidade, como se também não fosse brasileiro. Nunca ganhamos um Nobel, e o que ele é um Machado de Assis? Fala mal do Jabor, mas produziu um filme horrososo que se passar na sessão da tarde, dará um traço no Ibope.Sua característica principal é a inveja, a mesquinhez, o complexo de inferioridade. Sim, porque nunca produziu nada que prestasse, vive como um abutre, uma mosca varejeira procurando sempe uma ferida para dela tirar a sua sobrevivência.
Se a revista Veja tivesse um mínimo de decência, publicaria os diversos direitos de resposta, para que as pessoas atacadas por tantas maledicências pudessem se defender. Está a anos luz da Folha, que publica opiniôes diferentes da sua.
O pior que pode acontecer com o ser humano é ser julgar o dono da verdade, sem ao menos ouvir o outro. Esse é o problema da direita fundamentalista, querer legitimar os seus preconceitos mais recônditos com supostas teses universalistas.
Ele já assumiu que é o Paulo Francis do séc.XXI, numa versão muito mais grotesca. O que esperar de uma pessoas que provavelmente nunca ouviu fala do universalismo do caminho do meio?
Os seus heróis são a direita americana e seus supostos valores comerciais. Nem todos os valores do ser humano podem ser quantificados pela porcentagem do PIB, ou penetração tecnológica. O mundo não pode mais ser dividido em vencidos e perdedores, como se do outro lado não houvessem seres humanos, vítimas de uma cultura que valoriza o supérfluo em detrimento da preservação dos valores ambientais.
É óbvio, que temos uma esquerda medíocre desejosa de cabides de emprego, patrocinadora do estatismo vil que só serve para atrasar o país. Mas daí a dizer que a nossa cultura não serve para nada, que nunca seremos coisa alguma, que nos últimos cinqüenta anos nada mudou em nossa subserviência é menosprezar não só o brasileiro mais a própria capacidade humana de aprimorar-se cada vez mais.
Nunca podemos esquecer que as os países desenvolvidos, a grande maioria, ficaram ricos não apenas com trabalho e conhecimento intelectual, mas também com a escravidão, roubo de riquezas minerais, divisão da África, patrocínio de ditadura militares, envio de sucata tecnológica, corrupção, comprometendo por muitos anos o crescimento dos países periféricos.
Está mais do que na hora de cada brasileiro rebater cada gota de esgoto que sai da boca de certos colunistas, adeptos do quanto pior, melhor.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sem cigarro.

Nem a Márcia acreditava. Fâ incondicional do tabaco e afins, lutadora fiel dos últimos fumantes da Terra, chegou lá em casa sem folego.
- Rô, agora nós paramos de fumar.
- Legal, nunca soube que vc queria parar. Qual a novidade, eu já tentei de tudo até hipnose.
- Sério, e a solução é tão ridícula que eu me pergunto a todo momento como não pensei nisto antes.
- Estou tentando te levar a sério!
- Sabe aquele lance da cobra?
- Cobra, eu não sei de cobra nenhuma, quer dizer no meu trabalho vivo cercado delas, mas acho que não vem ao caso.
- Escuta vai, lembra do colégio, aquela história que todo professor de biologia conta o antítodo é tirado do próprio bicho lá no Butantâ? Então é mesma coisa. Todos nós fumamos porque associamos o cigarro ao prazer, assim como as crianças quando são amamentadas; algumas continuam com o hábito mesmo depois de adultas...
- Sei, sei, continua.
- Pois é, eu conheci um indiano de nome esquisito que está no Brasil para uma palestra que me ensinou o segredo, tudo muito simples...
- Este é o problema.
- Sério e ele não me cobrou nada. É o seguinte, toda vez que der vontade de fumar, é só molhar o cigarro e tragá-lo, ou tentar para ser mais claro, durante alguns minutos.
- Isto é loucura, ficará um gosto horrível na boca.
- O objetivo é este. A idéia é de que o nosso cérebro associe o cigarro a esta sensação estranha, logo, toda vez que pensarmos em fumar estaremos impregnados deste amagor.
- É, faz sentido.
- Mas tem que fazer por, no mínimo uma semana.

Confesso que estava meio cético no início, por isso só hoje eu esteja contado isto no blog. Não precisei de uma semana não, com dois dias já não aguentava mais olhar para um cigarro na minha frente. Como eu fumei esta porcaria tantos anos?
A Marcinha só esqueceu de me dar o nome do indiano para eu incluí-lo em minhas orações.

Como eu não pensei nisto antes?

sábado, 13 de setembro de 2008

César, o faraó.

Na época da escola, olhávamos admirados para as pirâmides do Egito, na maioria das vezes sem conseguir pronunciar seus nomes. Sempre tinha um profesor esquerdista para lembrar dos escravos explorados durante a construção: oh, quanto suor e sangue derramado, quando olhares para esta beleza lembrai-vos do custo humano da sua construção.
No Rio de Janeiro do século XXI, o prefeito Cesar Maia universalizou o conceito de dízimo para as obras faraônicas: rico ou pobre, todos nós estamos pagando pelo seu desvario megalomaníaco.É impossível não admirar, a medida que a construção vai chegando ao fim, afinal é ano de eleição, a beleza da cidade da música. O difícil é não concordar se ela seria mesmo necessária. 5oo milhões de reais; quantos hospitais não poderiam ser feitos, remédios distribuídos, crianças fora da rua, cursos profissionalizantes...
Fica a lição para cada um de nós: quando o ser humano não está comprometido com os ideais humanísticos, a soberba e a loucura sobem a cabeça, fazendo com que as necessidades mais básicas como saúde e educação, sejam preteridas em lugar de projetos de maior visibilidade. Ainda não foi desta vez que aprendemos a lição.
Estimado prefeito Cesar Maia: a história não te absolvirá.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Eduardo, meu amigo.

É legal falar do Eduardo porque parece que ele não existe. Sabe aquele amigo que passa anos sem te ligar e então fica seis meses ligando toda semana?Que joga futebol todos os dias!!!!!!! Que tem trinta e três anos(um jesus cristo, assim no diminutivo), é virgem e ainda mora com os pais?
Ás vezes ele liga de madrugada, quando eu digo palavrões impublicáveis. Toca a campainha sem ao menos avisar, conversa horas, faz perguntas mirabolantes e com respostas indecifráveis.
- Vc ainda acha que eu posso me candidatar ao primeiro emprego?
- O que eu coloco no meu currículo, já que eu nunca trabalhei?
- O que eu vou fazer quando o meu pai morrer( o pai dele é funcionário do Banco do Brasil) e ele ainda moram de aluguel. Caramba ele já passou por vários cursos, redes, informática, inglês, montagem e manutenção e ainda acha que não está preparado. O mais engraçado é que qualquer ser humano normal já estaria enfartando, preocupado com a taxa selic, poupança, crise no oriente médio, bolsa que cai, investimentos financeiros, mensalidade das crianças... e o meu amigo Eduardo, não.
Vive num mundo a parte, que ruirá certamente mais cedo ou mais tarde, como uma Alice no país das maravilhas ou a Xuxa no mundo da imaginação. Sempre que eu passo de ônibus no aterro, estico o pescoço pela janela, para tentar alcançálo em uma de suas jogadas ensaiadas, passes rápidos de um adolescente trintão. Ele me faz lembrar de um outro amigo meu o Bira:
- Deixa este copo comigo aqui Bira, você já bebeu demais.
- Não posso, a angústia é muito grande. Veja só: eu assino quatro jornais, O Globo, JB, folha e Estadão, o melhor de todos. Mas eu não tenho tempo nem paciência para ler todos eles. As notícias estão cada vez piores, corrupção, mortes, impunidade, não dá.
- E o que isto tem a ver com a bebida?
- No fundo eu tenho inveja dos ignorantes.
- Por que?
- Eles não sofrem.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Special to you

Engraçado eu me apaixonar por você. Não tens dinheiro, não tens uma beleza fenomenal, tampouco sonhos tangíveis. É aquela mesma dúvida que assola a mente dos invejosos de plantão: o que será que ele viu nela, tão bonito e ela tão gordinha; mas ele não tem onde cair morto e ela riquíssima, ainda existe golpe do baú, pensei apenas da barriga, isto é mandinga com certeza feita na Bahia que é para dar mais legitimidade, aposto como mergulhou o nome dele no mel ainda na colméia. Elá é muito mais velha que ele, poderia ser a sua mãe, ou quem sabe avó.
O que o mundo não entende, meu amor, é que simplesmente sinto-me feliz ao teu lado. Não, não te enganarei jurando-te amor eterno, papéis assinados, versos docemente preparados. Não tenho mais aquele dissabor adolescente, aquela volúpia desenfreada, amores sobressaltados, corações inquietos. Não fico sem dormir por teu telefonema.
Não me fazes perguntas inquietantes, não tenta me domar, não me liga insistentemente, não queres saber o quanto ganho, nem o meu trabalho, nem quando volto, não me pressiona. Mas quando estás comigo, és simplesmente minha, entrega-se totalmente, a satisfazer todas as minhas vontades, brincar de amar como eu jamais brinquei.
És tão nova para ser dissimulada, que calculo que simplesmente não desejas me perder, razão pela qual sublimas teus desejos mais recônditos. Bem sei que desejas muito mais, talvez o mesmo que todas as mulheres, embora saiba que revelar tal desejo seria arriscar perder-me. Os homens são mesmo uns egoístas.