sábado, 27 de setembro de 2008

Marcelo

Eu tento guardar dele os momentos gloriosos, quando ele estava no auge.
Jogávamos bola toda tarde no aterro do flamengo, após as aulas no Deodoro. Juntos, descobrimos as primeiras namoradas, o medo de não passar de ano, a angústia dos períodos de férias.
Uma vez ele estava fazendo aniversário e o pai dele andava lá pelo Amazonas, a trabalho. Tentamos fazer uma supresa, com uma dessas tortas de padaria, mas é impossível esconder quaquer coisa do Marcelo. Não só descobriu, como lambuzou todo mundo de creme e furou todos os balões de aniversário. Ele era assim brincalhão,diverto, sacana. Engrançado eu falar no pretérito como se ele tivesse morrido, mas parece que eu não o conheço mais.Difícil doença que descaracterize tanto uma pessoa como a esquizofrenia.

Como um amigo que brinca com vc a adolescência inteira, faz planos para o vestibular, namora, de repente aos 19 anos começa a andar nu pela cidade, a não falar coisa com coisa, achar que tem alguém querendo matá-lo, recusar-se a tomar banho e a sair de casa.Foi um choque para todos nós.
E o que se seguiu, não foi menos aterrador: internações, choques elétricos, remédios pesadíssimos, Pinel, fugas, a realidade de país terceiro-mundista.
É, Marcelo, talvez eu não possa fazer muito por você, meu amigo, não mais do que enviar-te orações para que um dia você consiga a cura para o teu mal. De toda forma fica o teu exemplo de vida, de luta e de superação e a tua história, principalmente para os que só pensam em dinheiro, prazeres fúteis e revista Caras.

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