Eu tento guardar dele os momentos gloriosos, quando ele estava no auge.
Jogávamos bola toda tarde no aterro do flamengo, após as aulas no Deodoro. Juntos, descobrimos as primeiras namoradas, o medo de não passar de ano, a angústia dos períodos de férias.
Uma vez ele estava fazendo aniversário e o pai dele andava lá pelo Amazonas, a trabalho. Tentamos fazer uma supresa, com uma dessas tortas de padaria, mas é impossível esconder quaquer coisa do Marcelo. Não só descobriu, como lambuzou todo mundo de creme e furou todos os balões de aniversário. Ele era assim brincalhão,diverto, sacana. Engrançado eu falar no pretérito como se ele tivesse morrido, mas parece que eu não o conheço mais.Difícil doença que descaracterize tanto uma pessoa como a esquizofrenia.
Como um amigo que brinca com vc a adolescência inteira, faz planos para o vestibular, namora, de repente aos 19 anos começa a andar nu pela cidade, a não falar coisa com coisa, achar que tem alguém querendo matá-lo, recusar-se a tomar banho e a sair de casa.Foi um choque para todos nós.
E o que se seguiu, não foi menos aterrador: internações, choques elétricos, remédios pesadíssimos, Pinel, fugas, a realidade de país terceiro-mundista.
É, Marcelo, talvez eu não possa fazer muito por você, meu amigo, não mais do que enviar-te orações para que um dia você consiga a cura para o teu mal. De toda forma fica o teu exemplo de vida, de luta e de superação e a tua história, principalmente para os que só pensam em dinheiro, prazeres fúteis e revista Caras.
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