segunda-feira, 11 de maio de 2009

Clube da Luta

Ainda sinto saudade, tanto tempo não a vejo. Meiga, romântica, fazia uma feijoada maravilhosa. Quase não falava de si mesma, mas um dia baixou a guarda. No fundo guardava uma melancolia.
- Ah Rodrigo, foi há tanto tempo. Eu era apaixonada pelo César.
- Quanto tempo ?
- Uns trinta anos.
- Sério ?
- Eu estou com 59.
- Não parece, eu não daria 50.
- Bondade sua, seu bobo. O fato é que mesmo depois de tudo o que aconteceu, às vezes eu ainda sonho com ele. Acredita ? Se não fosse aquela....tragédia. Acho que um de nós dois teria matado o outro.
- Tragédia? Como assim?
- Eu era uma adolescente magrinha, pernas de gambito mesmo, com um rabo de cavalo que ia até a altura da da cintura. Meus seios eram dois botões mirrados e ainda por cima cheia de espinhas. Tímida, quase não fazia amizade com as outras garotas. Até hoje não sei o que o César viu em mim.
Ele era órfão de mãe, e viva com uns tios no final da minha rua. Bonitão, com um cabelos louros ondulados, duns olhos verde-musgo, as garotas caíam em cima.
Um dia minha mãe fez um bingo lá em casa para arrecadar fundos para a paróquia do padre Ernesto. Eu ajudei a preparar uns doces, bolos e alguns salgadinhos para as pessoas beliscarem.
Tinha umas meninas ciscando para o lado dele, mas não saía do lado dos meus docinhos.
Por incrível que pareça em menos de seis meses estávamos casados, quem diria, naquela época as meninas ainda se levavam a sério.
Foi então que começou o meu inferno. Ele arranjou um emprego de mecânico em uma empresa de ônibus e após o trabalho parava no primeiro bar que encontrava pela frente. Mas isso era o de menos. Era um galinha incorrigível, cantava até vassoura encostada na porta.
Eu não conseguia dormir, ia atrás dele de bar em bar, armava escândalos, trancava a porta, ele arrombava e então brigávamos, quebrávamos tudo, fregueses constantes que éramos da delegacia do bairro.
Cansei de prestar queixa, para depois no dia seguinte retirar tudo. Ele dizia que ia parar, mas no dia seguinte começava tudo de novo.
Uma vez quase nos matamos, ele me empurrou, eu bati com a cabeça na mesa;começou a sangrar. Quando chegou perto para ver o que era, eu o esfaqueei na barriga.
Quando chegamos ao hospital, levado pelos vizinhos, a cena era hilária, trocávamos juras de amor, separados por tendas, preocupados que estávamos em perder um ao outro.
Ainda assim, vivendo como gato e rato, ficaríamos dez anos, hoje acredito que nunca teria coragem de deixá-lo, era pior que um vício.
Um dia eu estava em casa, olhando no relógio já preocupada porque ele não chegava, quando a notícia que eu menos esperava chegou: tantas vezes eu imaginei perdê-lo, mas para outra.
Ele estava consertando um ônibus, quando o mecanismo que mantinha suspenso o mesmo falhou, esmagando-o.
O pior de tudo para mim, é que não pude me despedir, pedir desculpa, como se fosse preciso, um adeus, sei lá.
Doei a maioria das roupas, objetos, ele já tinha sido tão marcante para mim, acabei relembrando Shakespeare:
" Guardar algo para que eu possa recordar-te, seria admitir que eu pudesse esquecer-te."

Um comentário:

Simone Vieira disse...

Pooooooooooooooooooooo cara tú tá cada vez melhor na escrita ,hein?!
dramático