terça-feira, 15 de maio de 2012

Capitães da Areia, por Jorge Amado

   Como um trapezista de circo.


...Nunca, porém, o tinham amado pelo que ele era, menino abandonado, aleijado e triste. Muita gente o tinha odiado.  E ele odiara a todos.  Apanhara na polícia, um homem ria quando o surravam. Para ele  é este o homem que corre em sua perseguição na figura dos guardas.  Se o levarem, o homem rirá de novo.  Não o levarão. Vêm em seus calcanhares, mas não o levarão.  Pensam que ele vai parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas não para.  Sobe para o pequeno muro, volve o rosto para os guardas que ainda  correm, ri com toda a força do seu ódio, cospe na cara de um que se aproxima estendendo os braços, se atira de costas no espaço como se fosse um trapezista de circo.
   A praça toda fica em suspenso por um momento.  " Se jogou", diz uma mulher, e desmaia.  Sem-Pernas se rebenta na montanha como um trapezista de circo que não tivesse alcançado o outro trapézio.  O cachorro late entre as grades do muro.

                                     Capitães da Areia, página 251.

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