segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A felicidade não se compra.

Este é o título de um maravilhoso filme de Frank Capra. Tomarei emprestado e em outra
oportunidade, falarei desta obra prima.
A televisão acabou de noticiar a morte do empresário Artur Sendas. Para poupar os meus leitores de gastarem seus níqueis com os jornais de amanhã, anunciarei as possíveis manchetes:
Empresário Artur Sendas, dono da rede de supermercados Casas Sendas, descendente de portugueses, grande benemérito que começou com um armazém, pai de família honrado, católico, vascaíno, filantropo, grande incentivador da economia fluminense, foi assassinado na madrugada de segunda-feira por um de seus motoristas. A polícia acredita que o motivo seja financeiro.
Algumas pessoas acreditam em sorte, destino, compra de juízes, no Brasil nada funciona, só se dá bem quem tem dinheiro, " tô pagano", um dia ganho na loteria e vou ser feliz de verdade, o dinheiro é tudo. Ou como diria Maquiavel: "os fins justificam os meios".
Estas pessoas deveriam pesquisar a história dos Kennedys, Onassiss, Principado de Mônaco, Antônio Carlos Magalhães, Pc Farias, Roseana Sarney, família Collor de Mello, enfim o Google está aí para os preguiçosos. E então vão descobrir, que se o dinheiro não foi o motivo principal, foi fator preponderante para muitas tragédias familiares.
Obviamente não estou querendo minimizar a importãncia monetária na vida do ser humano, mas também não que seja o mais importante.
Bom voltando a Artur Sendas, a despeito de toda a sua trajetória profissional, não poderia escapar de uma famosa frase de Balzac: por trás de toda fortuna, há um crime.
E já que a imprensa oficial, colocará debaixo do tapete, eu revelo para os meus leitores.
Hoje é moda nas grandes corporações a terceirização de serviços; contenção de custos e menos dor de cabeça. Mas houve um tempo em que funcionários da limpeza, seguranças e caixas de supermercados eram funcionários como todos os outros. Devemos lembrar que o código de defesa do consumidor só tem 18 anos. Se hoje já é difícil buscar nossos direitos em procons e pequenas causas da vida, imagine na louca década de 80, inflação galopante, produtos de qualidade duvidosa.
Pois foi nessa época e também antes, que empresários como o senhor Artur Sendas e muitos outros faziam o que queriam com os consumidores que não tinham para onde correr.Mas estes não eram os maiores prejudicados. A Sendas, juntamente com a não menos saudosa Telerj, era uma das campeãs de processos no tribunal de justiça do Rio de Janeiro.
Conheci várias pessoas que trabalharam lá como açougueiro, padeiro, estoquista, repositor, que foram mandados embora porque ficaram doentes, grávidas, foram levar o filho no médico.
A estas pessoas eles tinham a famosa frase, de praxe:
" Vá procurar os seus direitos"
É óbvio que a grande maioria não ia buscar, muitos semi-analfabetos, negros, nordestinos, iletrados. E olhe que até 1987 não existia seguro-desemprego. Houveram casos de suicídio, mães que viraram prostitutas, crianças que enveredaram pelo caminho das drogas.
Ainda existe a cultura predominante no Brasil, principalmente entre os ricos, de que se eu tenho dinheiro, eu posso tudo. A justiça não funciona. Pode até ser.
Mas existe outra justiça. A justiça do universo, implacável, idônea, indiferente ao tamanho da conta bancária. Ou como diria a sabedoria popular,caixão não tem gaveta.
Já dizia o poeta, o que você faz em vida, ecoa pela eternidade.
Artur Sendas começou a pagar pelos seus pecados em 2003. No dia 29 de Janeiro, o telefone de sua casa tocou de madrugada. Todos nós sabemos que telefone tocando de madrugada só tem dois motivos: algum amigo bêbado que perdeu a chave de casa; más notícias.
A concessionária Ponte S.A. ligou para avisar que o carro do seu filho Jõao Antõnio Sendas fora encontrado junto ao vão central, vazio. O corpo fora encontrado cinco horas depois na baía de Guanabara. É engraçado que até hoje muita gente não saiba disso. É claro que não sabe. A Sendas, grande anunciante de rádio e tv, contou com a colaboração dos veículos de comunicação cariocas para abafar o caso, os que publicaram, apenas notas de rodapé, discretas.
Mas quem quiser conferir, é só olhar a edição da Veja de 5 de fevereiro de 2003, seção Datas.
Acontecimento que nos leva a uma reflexão: o que leva um rapaz novo, 40 anos, casado e com filhos, herdeiro de uma fortuna de bilhões de reais a se suicidar.
Dizem que ele tinha problemas de depressão, mas quem mais sofreu foi o pai; era um dos filhos que ele mais gostava. Será que neste momento ele pensou que muitos dos seus trabalhadores, mandados embora por justa causa, sem motivo, também tinham filhos? Que muitos também tenham se suicidado?
Não quero prolongar-me mais neste assunto: é por demais pra mim penoso.Só sei que não estou surpreso com o fim do empresário Artur Sendas.

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