quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Um dia ela também foi jovem

Todos nós matamos Eloá. Não de repente, como Limdenberg e seu nome aportuguesado. O pior de tudo é que matamos aos poucos. Não são poucos os exemplos de atitudes machistas que contribuem para este clima belicoso em que as maiores vítimas são as mulheres.
Não faz muito tempo foi a Sirlei na Barra, agredida porque foi confundida com uma prostituta. Não muito tempo depois, Isabella Nardonni. E as piadas machistas prosperam. Ninguém fala da feiúra de José Serra. Mas o Casseta e Planeta, não perde uma oportunidade de ridicularizar os atributos físicos de Dilma Roussef. Se o filho diz que vai dormir fora de casa, sem problema; a filha não, não pode. E se tentar argumentar, " mas ele é HOMEM".
Durante as entrevistas aos amigos de Eloá, as respostas eram reveladoras: " ela era uma menina muito bonita", "ela era muito linda", " todo mundo achava ela bonita", como se a tragédia fosse menos tragédia, se ela fosse feia.
Quem nunca ouviu, ou falou as famosas frases: " eles formam um casal tão bonito", " ela é muito bonita para ele", " que pena ela era tão bonita".
Talvez as mulheres não saibam, mas a beleza exerce uma neurose absurda em determinados homens. Funciona mais ou menos assim. Se o relacionamento termina e ela é "feia", o trauma não é tão trauma. Mas quando ela é "muito bonita", muitos homens acabam não se conformando com a perda. Muitos "superam" buscando outra mulher " tão ou mais bonita" que a anterior, procurando exibi-la como se fosse um troféu. Lindemberg, como se sabe não agiu desta forma.
É frequente em nosso círculo social os casamentos de homens com mulheres vinte, trinta anos mais jovens, na maioria das vezes "bonitas". Os homens têm essa necessidade neurótica demonstrar poder com suas "posses", a mulher, o melhor carro, a melhor casa.
Impossível não citar Joseph Conrad: " Ser mulher é um negócio dificílimo, já que consiste basicamente em lidar com homens". E o pior é que a geografia só muda os traumas: em alguns países da África o absurdo da mutilação genital, no oriente médio; mutilação de adúlteras, no Japão, o preconceito sem sutilezas.
Já a mulher ocidental sente-se confortada? Eu penso que enganada. Libertou-se do famigerado "do lar" apenas ilusioriamente. Antigamente ela já trabalhava muito, às voltas com cuidados da casa e filhos. E hoje? Em muitos casos piorou; na maioria das vezes dupla jornada.
Sim, pois ao chegar em casa o maridão vai para a frente da televisão e fica esperando feito um pajé. Reuniões do colégio, quem vai? E levar o filho no médico? Vencimento de contas?
Não existe tragédia maior para certas mulheres do que a chegada da meia-idade. Muitas já foram abandonadas pelos maridos, os filhos crescidos, ou viúvas, segundo o IBGE a maioria jamais se casará novamente. E é o que muitas preferem, guardam nas lembranças os péssimos anos de convivência com o passado: alcoolismo, agressões, indiferenças, falta de carinhos e orgasmos.
Engraçado eu me lembrar de Camille Paglia: O lesbianismo está crescendo, já que estes homens machistas egoístas de hoje, não têm muito o que oferecer." A grande maioria só descobre a liberdade na menopausa, sozinhas. Não tem que dar satisfação a ninguém, dormem tranquilas, e sim, ainda querem namorar.
Mas só se for igual a Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir: cada um na sua casa. Um dia desses eu estava ouvindo um comentário preconceituoso numa roda de amigos sobre uma mulher já nos seus quarenta anos." Quem gosta de mulher velha é cadeira de balanço" Eu não sei de onde apareceu o rapaz, com seu comentário perspicaz: " Meu amigo. Ficarás um dia velho? Contarás tuas experiências para os seus netos, visitarás com eles o pôr do sol? Saibas tu que uma das melhores coisas da vida é a longevidade: dádiva para poucos. Pesquise a história; saberás que não foram muitos que tiveram este privilégio, muitos por ela buscaram. Quanto a mulher a qual se referes, UM DIA ELA TAMBÉM FOI JOVEM. Causou furor, amou, foi amada, sorriu, sofreu. Mas não morreu ainda. Com sorte viverá mais os seus cinquenta anos. E você? Nada sabes a respeito da vida. Seja sábio e nunca perderá a juventude."
Vivendo e aprendendo.

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