Onde estão cavalo e dono? Onde a trompa que ecoava?
Onde estão elmo e gibão e o cabelo que esvoaçante brilhava?
Onde está a mão sobre a harpa e do fogo o rubro tremer?
A primavera e a colheita onde estão e o trigo alto a crescer?
Como a chuva da montanha passaram, como um vento no prado;
Os dias do poente desceram atrás do monte ensombreado.
A fumaça da brasa que morre quem a irá guardar?
E os anos do Mar refluindo quem os irá contemplar?
Volume único página 531.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
A melhor coisa do mundo
Tanto tempo procurando
Sem conseguir descobrir
Por tantos vícios, por tantos bares
Lugares tão longe daqui
Quanta solidão, tanta tristeza
Por não conseguir encontrar
A melhor coisa do mundo
Já não consigo procurar
Tantas voltas no mesmo lugar
Quanta caminhada nos consultórios
Procurando saber de você
Mas o tempo foi passando
e eu me perdi
Sobre tantas esperanças...
Que vontade de sumir
Mas que bobagem
Tanto tempo eu procurei
Você sempre do meu lado
E eu nunca te encontrei.
Sem conseguir descobrir
Por tantos vícios, por tantos bares
Lugares tão longe daqui
Quanta solidão, tanta tristeza
Por não conseguir encontrar
A melhor coisa do mundo
Já não consigo procurar
Tantas voltas no mesmo lugar
Quanta caminhada nos consultórios
Procurando saber de você
Mas o tempo foi passando
e eu me perdi
Sobre tantas esperanças...
Que vontade de sumir
Mas que bobagem
Tanto tempo eu procurei
Você sempre do meu lado
E eu nunca te encontrei.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Perda
Já não consigo mais te ver
E as luzes todas apagadas
Não há ninguém para consolar
A noite é fria e traz lembranças
De um tempo não esquecido
É difícil fingir que não vejo
E controlar a vontade de você
São só tristezas lá em casa
Cenário inóspito na madrugada
Eu ando nas ruas perdido entre as pessoas
Tentando lembrar um pouco das coisas boas
Este telefone que não toca
Você que nunca mais entrou por esta porta
Quem sabe são esperanças mais...mais nada
Quem sabe eu não sabia desta perda anunciada
E as luzes todas apagadas
Não há ninguém para consolar
A noite é fria e traz lembranças
De um tempo não esquecido
É difícil fingir que não vejo
E controlar a vontade de você
São só tristezas lá em casa
Cenário inóspito na madrugada
Eu ando nas ruas perdido entre as pessoas
Tentando lembrar um pouco das coisas boas
Este telefone que não toca
Você que nunca mais entrou por esta porta
Quem sabe são esperanças mais...mais nada
Quem sabe eu não sabia desta perda anunciada
sábado, 1 de setembro de 2012
Alexandre
E como é fácil quando não é comigo. Escutar teu sentimento, tua vontade, um desejo. Saber não poder corresponder, e calar-se, sem resposta, sem esperança, sem nada. E dessa negligência veio a perda, tão desnecessária, tão rápida e surpresa. E até nesse momento o egoísmo aflora, de um remorso que corrói e machuca, de uma vontade de desculpar-se que não pode ser realizada.
Choro por mim, mas choro principalmente por você, pela tua falta, pela vontade de estar no teu lugar, com teu sorriso doce, alegre, espontâneo, de uma brevidade que não escolhe virtudes, de uma melancolia que percorre e se completa, nos momentos difíceis, nas lembranças dos momentos vividos e não vividos, das histórias não compartilhadas, das saudações entrecortadas.
E essa despedida que não pôde ser realizada, do tempo de um sonho cortado pela metade, eu estive tão perto, tão confiante numa vida eterna, de um filme de final feliz, num comprometimento não idealizado, de que no final tudo dá certo.
E na tua coragem naquele momento tão seu, de acreditar que tudo seria possível, de oferecer o melhor de si, nessa singeleza tão pura por onde vivem os apaixonados. Buscando na força da tua fé e do teu trabalho, chorando sozinho, idealizando um happy and possível, por que não? Encontrando às vezes, falando trivialidades, desconversando, mudando de assunto.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
Sem trabalhar
Não participava de greves. Até acreditava que muitas das reivindicações eram pertinentes. Mas é que não concordava que o direito de alguns interferisse na rotina de milhares. E é o que na maioria das vezes acabava acontecendo.
Obviamente fazia parte da minoria, o que lhe proporcionava algumas inimizades, um ou outro dissabor. Mas também não julgava. Talvez se não tivesse a oportunidade de vir do interior pensasse da mesma forma. No fundo gostava de trabalhar. E além do mais, fora tão difícil passar no concurso. Os meses estudando, as noites mal dormidas... E agora greve? Não, não, para ele isso não era possível.
Imagina se fosse médico? Não atenderia um paciente? E um professor? Negaria a um estudante o conhecimento? Policial deixaria de prender criminosos? Muito mais voltar para a iniciativa privada, de onde viera, ainda que ali a vida fosse mais difícil, embora muitas vezes recompensadora.
O labor como fonte de orgulho, seu pai tantas vezes ensinara. O serviço público não era perfeito, mas nada que corroborasse uma greve que acabava prejudicando quem nada tinha a ver com ela.
Obviamente fazia parte da minoria, o que lhe proporcionava algumas inimizades, um ou outro dissabor. Mas também não julgava. Talvez se não tivesse a oportunidade de vir do interior pensasse da mesma forma. No fundo gostava de trabalhar. E além do mais, fora tão difícil passar no concurso. Os meses estudando, as noites mal dormidas... E agora greve? Não, não, para ele isso não era possível.
Imagina se fosse médico? Não atenderia um paciente? E um professor? Negaria a um estudante o conhecimento? Policial deixaria de prender criminosos? Muito mais voltar para a iniciativa privada, de onde viera, ainda que ali a vida fosse mais difícil, embora muitas vezes recompensadora.
O labor como fonte de orgulho, seu pai tantas vezes ensinara. O serviço público não era perfeito, mas nada que corroborasse uma greve que acabava prejudicando quem nada tinha a ver com ela.
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Por onde andei, por Amanda Flores
Quantos caminhos cruzados
De brilhos fugazes e misteriosos
Em busca de fama e fortuna
Sem tempo pra mim nem para os meus
Por onde andei ?
E nesta jornada inglória
Em terras tão distantes de mim mesmo
Estive procurando por mim e por você
É como se eu sentisse uma angústia
Talvez eu já soubesse a resposta
que eu precisava pra viver.
Por onde andei ?
Hoje eu já não abro mão
De buscar meu filho na escola
E almoçar com a minha mãe aos domingos
Por onde andei ?
Finalmente estou de volta.
De brilhos fugazes e misteriosos
Em busca de fama e fortuna
Sem tempo pra mim nem para os meus
Por onde andei ?
E nesta jornada inglória
Em terras tão distantes de mim mesmo
Estive procurando por mim e por você
É como se eu sentisse uma angústia
Talvez eu já soubesse a resposta
que eu precisava pra viver.
Por onde andei ?
Hoje eu já não abro mão
De buscar meu filho na escola
E almoçar com a minha mãe aos domingos
Por onde andei ?
Finalmente estou de volta.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Cada um no seu quadrado, por Amanda Flores.
Não sei porque todo mundo que eu conheço quer morar comigo.
O Mauricio era um daqueles caras encantadores que poucas vezes surgem na vida de uma mulher. Bonito, espirituoso, bem-humorado. Mas não bastou para me convencer:
- Casa comigo ?
- Cê tá brincando.
- Nunca falei tão sério em toda a minha vida.
- Você mal me conhece.
- Conheço o suficiente para saber que você é perfeita pra mim.
- Deixa eu ver se eu entendi. You and me, day by day ?
- Yes.
- Faz-me rir.
- É engraçado?
- Demais. Você não sabe o que está falando.
- Eu falo sério.
- Tá bom eu acordando ao seu lado, todo dia. Não, não pode. Você vai me ver sem maquiagem.
- E qual o problema ?
- Ninguém me vê sem maquiagem.
- Que bobagem!
- Eu não saio sem maquiagem. Nem para ir na padaria. Eu acho que nem a empregada me viu sem maquiagem.
- Mas você é linda.
- Noventa por cento sai com água e sabão.
- Hã ?
- Noventa por cento da beleza de noventa por cento da mulheres sai com água e sabão.
- Exagerada.
- É verdade, eu sou insuportável.
- Pára de falar besteira, você é maravilhosa.
- Eu tenho TPM
- Toda mulher tem.
- Mas eu tenho pré e pós.
- Como assim ?
- Pré-menstrual e Pós-menstrual.
- Eu estou apaixonado por você.
- Você não desiste, né?
Eu consegui enrolar o Mau por seis meses. Então ele viu o O Poderoso Chefão e me fez uma proposta irrecusável. Comprou um apartamento lindo, decorou do meu jeito, um quarto pra ele e outro pra mim - para o dia em que você não estiver afim de olhar para a cara de ninguém nem da minha - e ainda colocou no meu nome. Não tinha como resistir né ?
Ele foi o único cara que me aturou.
O Mauricio era um daqueles caras encantadores que poucas vezes surgem na vida de uma mulher. Bonito, espirituoso, bem-humorado. Mas não bastou para me convencer:
- Casa comigo ?
- Cê tá brincando.
- Nunca falei tão sério em toda a minha vida.
- Você mal me conhece.
- Conheço o suficiente para saber que você é perfeita pra mim.
- Deixa eu ver se eu entendi. You and me, day by day ?
- Yes.
- Faz-me rir.
- É engraçado?
- Demais. Você não sabe o que está falando.
- Eu falo sério.
- Tá bom eu acordando ao seu lado, todo dia. Não, não pode. Você vai me ver sem maquiagem.
- E qual o problema ?
- Ninguém me vê sem maquiagem.
- Que bobagem!
- Eu não saio sem maquiagem. Nem para ir na padaria. Eu acho que nem a empregada me viu sem maquiagem.
- Mas você é linda.
- Noventa por cento sai com água e sabão.
- Hã ?
- Noventa por cento da beleza de noventa por cento da mulheres sai com água e sabão.
- Exagerada.
- É verdade, eu sou insuportável.
- Pára de falar besteira, você é maravilhosa.
- Eu tenho TPM
- Toda mulher tem.
- Mas eu tenho pré e pós.
- Como assim ?
- Pré-menstrual e Pós-menstrual.
- Eu estou apaixonado por você.
- Você não desiste, né?
Eu consegui enrolar o Mau por seis meses. Então ele viu o O Poderoso Chefão e me fez uma proposta irrecusável. Comprou um apartamento lindo, decorou do meu jeito, um quarto pra ele e outro pra mim - para o dia em que você não estiver afim de olhar para a cara de ninguém nem da minha - e ainda colocou no meu nome. Não tinha como resistir né ?
Ele foi o único cara que me aturou.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
On the road - Na estrada
Pegamos a estrada e fomos...
Tenho uma natureza reclusa. Detesto sair de casa, shows de preferência os que duram duas horas, sou o primeiro a ir embora das festas. Fui feito para a retidão do lar, para a contemplação, sessões de leitura, meditação, boa comida e dormir. Só que chega uma hora que é preciso sair da toca. E foi o que fizemos, Alessandro, Paulo e eu.
Com o argumento de visitar uns clientes no Norte Fluminense, rodamos quase mil quilômetros por lugares paradisíacos. Eu nunca tinha feito uma viagem tão longa de carro. E foi maravilhoso. Fazendas, pradarias, canaviais imensos, casas de tijolo aparente, lagos pequenos e grandes, alguns formados pelas chuva intermitente. Bosques, olarias, plantações de eucalipto, haras, muros caiados em residências que pareciam perdidas no tempo. Ruas de paralelepipedos, carros fora de linha, estradas de barro, praias com mares revoltos, galinhas poedeiras e sotaques peculiares.
E as crianças? Todas lindas, risonhas, serelepes, perguntando o tempo todo sobre tudo, acompanhadas de professoras encantadoras e pacientes, ensinando, limpando, alimentando-as. Ainda se via nas praças os parquinhos, alguns centenários, assim como as árvores e seus pardais que vinham comer quase na nossa mão. E a culinária belíssima, de bolos e pães artesanais, frutas colhidas no pé, cafés com leite inigualáveis e almoços espetaculares numa orgia gastronômica que me custará quinze dias de dieta, no mínimo.
Ouvindo Barry White, íamos admirando a vegetação e seus vários tons de verde: claro, escuro, musgo, oliva.Quilômetros e quilômetros, alta voltagem, com pausa para dormir em hotéis de beira de estrada, mas confortáveis, num sono reparador para a longa viagem.
Voltei pro Rio energizado.
Tenho uma natureza reclusa. Detesto sair de casa, shows de preferência os que duram duas horas, sou o primeiro a ir embora das festas. Fui feito para a retidão do lar, para a contemplação, sessões de leitura, meditação, boa comida e dormir. Só que chega uma hora que é preciso sair da toca. E foi o que fizemos, Alessandro, Paulo e eu.
Com o argumento de visitar uns clientes no Norte Fluminense, rodamos quase mil quilômetros por lugares paradisíacos. Eu nunca tinha feito uma viagem tão longa de carro. E foi maravilhoso. Fazendas, pradarias, canaviais imensos, casas de tijolo aparente, lagos pequenos e grandes, alguns formados pelas chuva intermitente. Bosques, olarias, plantações de eucalipto, haras, muros caiados em residências que pareciam perdidas no tempo. Ruas de paralelepipedos, carros fora de linha, estradas de barro, praias com mares revoltos, galinhas poedeiras e sotaques peculiares.
E as crianças? Todas lindas, risonhas, serelepes, perguntando o tempo todo sobre tudo, acompanhadas de professoras encantadoras e pacientes, ensinando, limpando, alimentando-as. Ainda se via nas praças os parquinhos, alguns centenários, assim como as árvores e seus pardais que vinham comer quase na nossa mão. E a culinária belíssima, de bolos e pães artesanais, frutas colhidas no pé, cafés com leite inigualáveis e almoços espetaculares numa orgia gastronômica que me custará quinze dias de dieta, no mínimo.
Ouvindo Barry White, íamos admirando a vegetação e seus vários tons de verde: claro, escuro, musgo, oliva.Quilômetros e quilômetros, alta voltagem, com pausa para dormir em hotéis de beira de estrada, mas confortáveis, num sono reparador para a longa viagem.
Voltei pro Rio energizado.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Diário de bordo
Meu amigo Y. esteve aqui em casa hoje. Com ele pude compartilhar os encantos da filosofia budista. Realmente para um carioca sair de casa, num frio deste e com chuva, só estando muito interessado. Ainda mais falando de religião. O engraçado é que eu estou passando por um momento difícil, com o meu transtorno tentando me derrubar, e não conseguindo, e esta visita foi maravilhosa.
Conversamos sobre o conceito de karma, vidas passadas, fé, prática, indumentária e termologias. O que mais me impressionou foi a sua profunda curiosidade sobre todas as questões e a vontade de compartilhá-la. Confesso que esses encontros são extremamente recompensadores, porque renovam a esperança, espiritualizam e tranquilizam meu espírito.
Por uma hora e meia, pudemos trocar experiências de vida, histórias e, acima de tudo, iniciar uma amizade verdadeira, independente de nossas origens, e acredito que descobrimos muitas coisas em comum.
Por fim, ele saiu decidido a iniciar a recitação do mantra, o que me deixou muito feliz.
Quando ele foi embora a chuva continuou caindo torrencialmente. Mas o meu coração estava na mais profunda paz.
Conversamos sobre o conceito de karma, vidas passadas, fé, prática, indumentária e termologias. O que mais me impressionou foi a sua profunda curiosidade sobre todas as questões e a vontade de compartilhá-la. Confesso que esses encontros são extremamente recompensadores, porque renovam a esperança, espiritualizam e tranquilizam meu espírito.
Por uma hora e meia, pudemos trocar experiências de vida, histórias e, acima de tudo, iniciar uma amizade verdadeira, independente de nossas origens, e acredito que descobrimos muitas coisas em comum.
Por fim, ele saiu decidido a iniciar a recitação do mantra, o que me deixou muito feliz.
Quando ele foi embora a chuva continuou caindo torrencialmente. Mas o meu coração estava na mais profunda paz.
terça-feira, 15 de maio de 2012
Soneto de separação, por Vinicius de Moraes
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes
Eu faria qualquer coisa por você
Já tinha tentado de tudo: bombons, flores, presentes, serenatas. Mandou bilhetes, escreveu cartas, foi na cartomante, acendeu velas, simpatias. Escreveu poemas, músicas, dedicatórias, assim como tinha intercedido à mãe e às amigas. Nem por um momento pensou em desistir, assim como não acreditou que tais sacrifícicios seriam inúteis.
Tinha conseguido sorrisos, poucos é verdade, mas recompensadores. Não era o bastante. Precisava do mesmo ar, da convivência, da rotina benfazeja, abraços e cobertores. Não era de encontros esparsos, tampouco furtivos, em portões de horários inoportunos, muito menos noivados prolongados.
Tais insistências apenas faziam aumentar a angústia de um romance não começado. E quanto mais o tempo passava, a ansiedade tomava-lhe o peito, sufocando-o, tirando-lhe o sono, estragando os estudos. Chegou um momento que já não vivia; esqueceu a fome, a sede, os compromissos. A mãe tomou-lhe a pulso: não permitirei que insistas neste loucura.
Por fim, adoeceu. A pneumonia baixou-lhe a guarda, sumiu por duas semanas, a febre intermitente, a internação em local ignorado. Ela sentiu a falta: será que não vem mais, faz tempo que não vejo, o que terá acontecido?
A possibilidade de nunca mais vê-lo aterrorizou-a. Não eram próximos, nem estudavam juntos, como procurá-lo? E então percebeu que já o amava, pelo simples temor de nunca mais vêlo; moveu céus e terras para achá-lo..
Encontrou-o depois de cinco dias, arfante, agradecida, decidida a vivê-lo em cada momento. Já não eram apenas promessas. E deixou escapar as palavras, tantas vezes ensaiada.
- Eu faria qualquer coisa por você
Tinha conseguido sorrisos, poucos é verdade, mas recompensadores. Não era o bastante. Precisava do mesmo ar, da convivência, da rotina benfazeja, abraços e cobertores. Não era de encontros esparsos, tampouco furtivos, em portões de horários inoportunos, muito menos noivados prolongados.
Tais insistências apenas faziam aumentar a angústia de um romance não começado. E quanto mais o tempo passava, a ansiedade tomava-lhe o peito, sufocando-o, tirando-lhe o sono, estragando os estudos. Chegou um momento que já não vivia; esqueceu a fome, a sede, os compromissos. A mãe tomou-lhe a pulso: não permitirei que insistas neste loucura.
Por fim, adoeceu. A pneumonia baixou-lhe a guarda, sumiu por duas semanas, a febre intermitente, a internação em local ignorado. Ela sentiu a falta: será que não vem mais, faz tempo que não vejo, o que terá acontecido?
A possibilidade de nunca mais vê-lo aterrorizou-a. Não eram próximos, nem estudavam juntos, como procurá-lo? E então percebeu que já o amava, pelo simples temor de nunca mais vêlo; moveu céus e terras para achá-lo..
Encontrou-o depois de cinco dias, arfante, agradecida, decidida a vivê-lo em cada momento. Já não eram apenas promessas. E deixou escapar as palavras, tantas vezes ensaiada.
- Eu faria qualquer coisa por você
Capitães da Areia, por Jorge Amado
Como um trapezista de circo.
...Nunca, porém, o tinham amado pelo que ele era, menino abandonado, aleijado e triste. Muita gente o tinha odiado. E ele odiara a todos. Apanhara na polícia, um homem ria quando o surravam. Para ele é este o homem que corre em sua perseguição na figura dos guardas. Se o levarem, o homem rirá de novo. Não o levarão. Vêm em seus calcanhares, mas não o levarão. Pensam que ele vai parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas não para. Sobe para o pequeno muro, volve o rosto para os guardas que ainda correm, ri com toda a força do seu ódio, cospe na cara de um que se aproxima estendendo os braços, se atira de costas no espaço como se fosse um trapezista de circo.
A praça toda fica em suspenso por um momento. " Se jogou", diz uma mulher, e desmaia. Sem-Pernas se rebenta na montanha como um trapezista de circo que não tivesse alcançado o outro trapézio. O cachorro late entre as grades do muro.
Capitães da Areia, página 251.
...Nunca, porém, o tinham amado pelo que ele era, menino abandonado, aleijado e triste. Muita gente o tinha odiado. E ele odiara a todos. Apanhara na polícia, um homem ria quando o surravam. Para ele é este o homem que corre em sua perseguição na figura dos guardas. Se o levarem, o homem rirá de novo. Não o levarão. Vêm em seus calcanhares, mas não o levarão. Pensam que ele vai parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas não para. Sobe para o pequeno muro, volve o rosto para os guardas que ainda correm, ri com toda a força do seu ódio, cospe na cara de um que se aproxima estendendo os braços, se atira de costas no espaço como se fosse um trapezista de circo.
A praça toda fica em suspenso por um momento. " Se jogou", diz uma mulher, e desmaia. Sem-Pernas se rebenta na montanha como um trapezista de circo que não tivesse alcançado o outro trapézio. O cachorro late entre as grades do muro.
Capitães da Areia, página 251.
domingo, 13 de maio de 2012
Mães
E aguardava na porta do colégio, entre as copas da árvores, com
ansiedade. E esperava horas, a despeito da humilhação da revista
íntima, nos presídios. Exames, consultas, alimentação, chá de bebê, 9
meses. E chorava, ria, você é lindo, trocava fralda,
preparava o café, passava a roupa, penteava o cabelo, abria a porta, mãe
estou de volta, o casamento não deu certo, a casa é sua meu filho.
Costurava para fora, comia por último, administrava os remédios, orava, buscava, levava, amamentava, dava conselhos. Mas também brigava, colocava de castigo, só amanhã, você precisa me ouvir, arrumava a mochila, apertava o cadarço, ajeitava o cinto, abria a mochila, revirava os armários.
Sim, ser mãe é não tirar férias, nunca, viver essa integralidade, é chorar junto, separado, correr, preocupar-se, engolir mágoas, rancores, não ser compreendida. E ainda sim, fazer de tudo e um pouco mais, nesse instinto de sobrevivência tão puro, tão seu e tão incrível que faz que com que a vida do filho seja mais importante que a dela própria. Afinal, quer preocupação maior do que o medo de ir embora cedo demais e não saber como os filhos viverão sem ela?
Sim, a vida está cheia de milagres e a maternidade é o mais lindo deles, por mais necessário e, acima de tudo, inacreditável. Certa vez um cristão pronunciou: " Deus quando criou o mundo, percebeu que não poderia estar em todos os lugares. Então criou as mães." É uma maneira simples e singela de homenageá-las.
O mundo seria um lugar terrível se não existissem as mães.
Costurava para fora, comia por último, administrava os remédios, orava, buscava, levava, amamentava, dava conselhos. Mas também brigava, colocava de castigo, só amanhã, você precisa me ouvir, arrumava a mochila, apertava o cadarço, ajeitava o cinto, abria a mochila, revirava os armários.
Sim, ser mãe é não tirar férias, nunca, viver essa integralidade, é chorar junto, separado, correr, preocupar-se, engolir mágoas, rancores, não ser compreendida. E ainda sim, fazer de tudo e um pouco mais, nesse instinto de sobrevivência tão puro, tão seu e tão incrível que faz que com que a vida do filho seja mais importante que a dela própria. Afinal, quer preocupação maior do que o medo de ir embora cedo demais e não saber como os filhos viverão sem ela?
Sim, a vida está cheia de milagres e a maternidade é o mais lindo deles, por mais necessário e, acima de tudo, inacreditável. Certa vez um cristão pronunciou: " Deus quando criou o mundo, percebeu que não poderia estar em todos os lugares. Então criou as mães." É uma maneira simples e singela de homenageá-las.
O mundo seria um lugar terrível se não existissem as mães.
TDAH ou Visceral e Impulsivo
.... e se apaixonava, verdadeiramente, com declarações, presentes, melodias, para hoje e sempre. Visualizava projetos, dedicava, escrevia, idolatrava por meses como nunca antes. Acreditava, amigo, parceiro, confidências, fidelidade. E dormia, transava bem, boa comida, pintava quadros, escolhia-os cuidadosamente, plantava flores, aspirava, desenhava-a, tão perfeita, presente pra você, nunca vi coisa tão linda, obrigado, e tortas de chocolate, surpresas, isqueiros acesos são velas, melhor do que luminárias e lamparinas.
Era importante, sim, como nenhuma outra, assim como as recaídas. E bebia, fumava, sumia, desligava o telefone, pedia demissão, gritava, viajava, leave me alone, desculpa, não foi assim, preciso pensar melhor, e quebrava tudo, e consertava tudo, e comprava tudo novo. Eu sou louco eu sei, afaste-se de mim é melhor pra você, mas não entendo parecia tudo tão perfeito, e compravas discos para ouvir uma música, lia as revistas pelo final, pulava páginas e saía no meio do show, não terminava os cursos, e brigava com todos os amigos, e consigo mesmo, quebrava o espelho, e jogava tudo fora, e distribuía dinheiro.
E contemplava árvores, e chorava com as crianças desamparadas, e aparecia de repente, saudade de você, pensei tanto, lembra-se dos nossos bons momentos, trazia bombons, tirava fotos, e dava-as, e a buscava de carro, abria a porta.
São os primeiros dos suicidas, pais precoces, dependentes químicos, artistas, dos que se vão, incontroláveis. E orava por horas, ia para um retiro, enjoava, e então percebia que já não tinha para onde ir, pois não conseguia livrar-se de si mesmo. E recomeçava a busca pelo trajeto, pela não-continuidade, amores passados, bóias e estrelas.
Pior do que conviver com um TDAH, é ser um TDAH.
Era importante, sim, como nenhuma outra, assim como as recaídas. E bebia, fumava, sumia, desligava o telefone, pedia demissão, gritava, viajava, leave me alone, desculpa, não foi assim, preciso pensar melhor, e quebrava tudo, e consertava tudo, e comprava tudo novo. Eu sou louco eu sei, afaste-se de mim é melhor pra você, mas não entendo parecia tudo tão perfeito, e compravas discos para ouvir uma música, lia as revistas pelo final, pulava páginas e saía no meio do show, não terminava os cursos, e brigava com todos os amigos, e consigo mesmo, quebrava o espelho, e jogava tudo fora, e distribuía dinheiro.
E contemplava árvores, e chorava com as crianças desamparadas, e aparecia de repente, saudade de você, pensei tanto, lembra-se dos nossos bons momentos, trazia bombons, tirava fotos, e dava-as, e a buscava de carro, abria a porta.
São os primeiros dos suicidas, pais precoces, dependentes químicos, artistas, dos que se vão, incontroláveis. E orava por horas, ia para um retiro, enjoava, e então percebia que já não tinha para onde ir, pois não conseguia livrar-se de si mesmo. E recomeçava a busca pelo trajeto, pela não-continuidade, amores passados, bóias e estrelas.
Pior do que conviver com um TDAH, é ser um TDAH.
sábado, 12 de maio de 2012
Não dá mais, por Pablo Santiago.
Eu já tentei de tudo
Mas agora já não dá mais
Confiei em seus sonhos
Te agarrei em meus braços
Fui teu protetor
E você não entendeu
Agora já não dá mais
Não dá mais
Não dá mais
Você pode não acreditar
Mas houve um momento em
Em que eu pensei que você poderia
Ser a minha garotinha
Eu sei que houveram sorrisos
De algodão doce em parques de diversão
E olhares compartilhados no celular
Nós buscamos isso
Mas infelizmente, você jogou tudo fora
E dentro de mim esse caminho já não dá mais
Portanto
Já não dá mais
Não dá mais
Não dá mais
Jogue fora as minhas fotos
E não me procure mais
E eu tentarei guardar as boas lembranças
Das poucas vezes em que fomos felizes
Porque baby infelizmente
Não dá mais
Não dá mais
Mas agora já não dá mais
Confiei em seus sonhos
Te agarrei em meus braços
Fui teu protetor
E você não entendeu
Agora já não dá mais
Não dá mais
Não dá mais
Você pode não acreditar
Mas houve um momento em
Em que eu pensei que você poderia
Ser a minha garotinha
Eu sei que houveram sorrisos
De algodão doce em parques de diversão
E olhares compartilhados no celular
Nós buscamos isso
Mas infelizmente, você jogou tudo fora
E dentro de mim esse caminho já não dá mais
Portanto
Já não dá mais
Não dá mais
Não dá mais
Jogue fora as minhas fotos
E não me procure mais
E eu tentarei guardar as boas lembranças
Das poucas vezes em que fomos felizes
Porque baby infelizmente
Não dá mais
Não dá mais
O Amor nos Tempos do Cólera, por Gabriel García Márquez
" Santíssimo Sacramento! - gritou. - Vai se matar!
O doutor Urbino agarrou o louro pelo pescoço com um suspiro de triunfo: ça y est. Mas o largou de pronto, poque a escada resvalou sob seus pés e ele ficou um instante suspenso no ar, e então conseguiu perceber que se matava sem comunhão, sem tempo para se arrepender de nada nem se despedir de ninguém, às quatro e sete minutos da tarde de domingo de Pentecostes.
Fermina Daza estava na cozinha provando a sopa para o jantar, quando ouviru o grito de horror de Digna Pardo e o alvoroço da criadagem da casa e depois da vizinhança. Atirou a colher de pau e tratou de correr como pôde com o peso invencível da idade, gritando feito uma louca sem saber ainda o que acontecia debaixo da copa da mangueira e o coração lhe estorou em estilhaços quando viu seu homem estirado de costas no lodo, já morto em vida mas resistindo ainda um último minuto à chicotada final da cauda da morte para que ela sua mulher tivesse tempo de chegar. Chegou à reconhecê-la no tumulto através das lagrimas da dor que jamais se repetiria de morrer sem ela, e a olhou pela última vez para todo o sempre com os mais luminosos, mais tristes e mais agradecidos olhos que ela jamais vira no rosto dele em meio século de vida em comum, e ainda conseguiu dizer-lhe com o último alento:
- Só Deus sabe o quanto amei você. "
O Amor nos Tempos do Cólera, págs. 58 e 59.
O doutor Urbino agarrou o louro pelo pescoço com um suspiro de triunfo: ça y est. Mas o largou de pronto, poque a escada resvalou sob seus pés e ele ficou um instante suspenso no ar, e então conseguiu perceber que se matava sem comunhão, sem tempo para se arrepender de nada nem se despedir de ninguém, às quatro e sete minutos da tarde de domingo de Pentecostes.
Fermina Daza estava na cozinha provando a sopa para o jantar, quando ouviru o grito de horror de Digna Pardo e o alvoroço da criadagem da casa e depois da vizinhança. Atirou a colher de pau e tratou de correr como pôde com o peso invencível da idade, gritando feito uma louca sem saber ainda o que acontecia debaixo da copa da mangueira e o coração lhe estorou em estilhaços quando viu seu homem estirado de costas no lodo, já morto em vida mas resistindo ainda um último minuto à chicotada final da cauda da morte para que ela sua mulher tivesse tempo de chegar. Chegou à reconhecê-la no tumulto através das lagrimas da dor que jamais se repetiria de morrer sem ela, e a olhou pela última vez para todo o sempre com os mais luminosos, mais tristes e mais agradecidos olhos que ela jamais vira no rosto dele em meio século de vida em comum, e ainda conseguiu dizer-lhe com o último alento:
- Só Deus sabe o quanto amei você. "
O Amor nos Tempos do Cólera, págs. 58 e 59.
sexta-feira, 30 de março de 2012
O Caçador de Pipas, por Khaled Rousseini

" Um livro que aparece a cada cinco ou dez anos. "
Rodrigo Rosa
" Esta é uma daquelas histórias inesquecíveis que permanecem na nossa memória por anos a fio.
Todos os grandes temas da literatura e da vida são o material com que é tecido este romance extraordinário: amor, honra, culpa, medo redenção. "
Isabel Allende
" Existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simplesmente uma variação do roubo.(...). Quando você mata um homem está roubando uma vida. Está roubando da esposa o direito de ter um marido, roubando dos filhos o direito de ter um pai. Quando mente está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça."
O Caçador de Pipas, págs. 25 e 26
Em todo lugar existe um pouco de poesia
Eu simplesmente acreditei
Que eu não poderia
Conquistar tudo o que sonhava
E que a minha felicidade
Apenas poderia estar à beira-mar
Mergulhado em transatlânticos
E em minhas taças de Merlot
Sonhava com chuvas de prata
E com sorrisos pagos
E foi naquele bairro de subúrbio
Entre graxas, tintas, maquinários,
Cigarros, Coca-cola, chicletes e afins.
Tão longe de mim
E da minha realidade
E os refletores acesos, mostrando-me
Que eu já não poderia fraquejar
Eu não era mais um garotinho
Foi só nesse lugar e por quê ?
Que eu encontrei um pouco de poesia
E como não poderia
Mesmo ligando no último volume
Não te encontrar, ainda que no pensamento
Oh baby, eu não poderia
Não poderia te merecer
Então jogo fora as cinzas e largo
Até as partidas de sinuca
Pearl Jam vem comigo
E a sua poesia, hoje você me ensinou
Que em todo lugar existe um pouco de poesia
Em todo lugar um pouco de poesia
A tua poesia
quarta-feira, 28 de março de 2012
We found love, por Amanda Flores

Nós encontramos o amor em um lugar sem esperança, diz Rihanna em seu mais recente sucesso. Fazendo um paralelo com meu atual relacionamento, nunca imaginei que encontraria um cara tão legal numa segunda-feira de carnaval.
Contrariando todos os prognósticos-até os meus-, comemoramos dois anos de namoro no mês passado. Confesso que apesar da longevidade de um dos meus relacionamentos anteriores
( 12 anos ! ) , sempre tive dificuldade em lidar com planejamento a longo prazo.
E o mais inacreditável é como chegou exatamente como imaginei: firmeza de caráter, simplicidade, romantismo e fidelidade.
E quando eu leio ou ouço histórias parecidas com a minha, regozijo-me por nunca ter perdido a fé, tão necessária foi para sustentar-me em minha caminhada.
Eu nunca imaginei que fosse perfeito, mas sempre acreditei que pudesse ser lindo.
domingo, 4 de março de 2012
Pais e filhos
Ninguém questiona o fato de que as mulheres são muito mais presentes na educação das crianças que os homens. Apesar de toda a modernidade, os homens ainda participam pouco da construção do desenvolvimento infantil. O que é muito prejudicial, na medida em que a figura paterna acaba sendo substituída pela própria mãe, amigos ou escola de uma forma um tanto nefasta, pois a presença masculina é insubstituível, eu acho.
O que, excetuando as generalizações, tão comuns, nos permite analisar de uma forma ampla, sem preconceitos, os modelos distintos de conversar com as crianças que cada um excerce na educação dos filhos. Eu morei na roça e lembro que papai tinha uma galinha que era muito engraçada. Ela era muito magra, a chamada galinha pé-seco, mas botava muitos ovos. Que, quando não eram imediatamente devorados, transformavam-se em inumeráveis pintinhos. E era muito difícil pegar algum de seus ovos, pois ela era extremamente agressiva, ao contrário das outras galinhas. Agora depois que os filhotes nasciam, ela se transformava. Nós tinhamos que agarrá-la, pois ela batia neles e não deixava eles se alimentarem. Taí uma exceção à regra. Não que eu queira comparar as mulheres às galinhas, mas apenas para exemplificar o perigo da universalização.
Agora obviamente, mãe é mãe. É quem amamenta, carrega noves meses, aguenta a dor, tem o primeiro contato, nina. Taí uma experiência que nós homens nunca iremos conhecer. E por que eu estou falando isso ? Porque esta semana eu vi uma situação curiosa dentro de um ônibus. Curiosa não, engraçada. Num ônibus os lugares mais cobiçados são, obviamente, os da janela. Isto é, quando não se está fazendo um sol de 40 graus como no Rio de Janeiro, sem ar- condicionado. Então, os melhores ficam sendo os do corredor. Eu estava sentado no banco traseiro, quando chega um pai acompanhado do filho.
- Vai filho, senta lá na janela.
- Não pai, obrigado eu prefiro ficar aqui.
- Mas filho você não gosta da janela ?
- Mas hoje eu quero ficar aqui.
- Por que filho, vai lá pro seu cantinho, vai.
- Quero não, pai.
Lembrei da galinha do quintal do meu pai.
O que, excetuando as generalizações, tão comuns, nos permite analisar de uma forma ampla, sem preconceitos, os modelos distintos de conversar com as crianças que cada um excerce na educação dos filhos. Eu morei na roça e lembro que papai tinha uma galinha que era muito engraçada. Ela era muito magra, a chamada galinha pé-seco, mas botava muitos ovos. Que, quando não eram imediatamente devorados, transformavam-se em inumeráveis pintinhos. E era muito difícil pegar algum de seus ovos, pois ela era extremamente agressiva, ao contrário das outras galinhas. Agora depois que os filhotes nasciam, ela se transformava. Nós tinhamos que agarrá-la, pois ela batia neles e não deixava eles se alimentarem. Taí uma exceção à regra. Não que eu queira comparar as mulheres às galinhas, mas apenas para exemplificar o perigo da universalização.
Agora obviamente, mãe é mãe. É quem amamenta, carrega noves meses, aguenta a dor, tem o primeiro contato, nina. Taí uma experiência que nós homens nunca iremos conhecer. E por que eu estou falando isso ? Porque esta semana eu vi uma situação curiosa dentro de um ônibus. Curiosa não, engraçada. Num ônibus os lugares mais cobiçados são, obviamente, os da janela. Isto é, quando não se está fazendo um sol de 40 graus como no Rio de Janeiro, sem ar- condicionado. Então, os melhores ficam sendo os do corredor. Eu estava sentado no banco traseiro, quando chega um pai acompanhado do filho.
- Vai filho, senta lá na janela.
- Não pai, obrigado eu prefiro ficar aqui.
- Mas filho você não gosta da janela ?
- Mas hoje eu quero ficar aqui.
- Por que filho, vai lá pro seu cantinho, vai.
- Quero não, pai.
Lembrei da galinha do quintal do meu pai.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
O alquimista, por Paulo Coelho

O Alquimista pegou um livro que alguém na caravana havia trazido. Enquanto folheava suas páginas, encontrou uma história sobre Narciso.
O Alquimista conhecia a lenda de Narciso, um rapaz que todos os dias se debruçava na margem de um lago para contemplar sua beleza. Era tão fascinado por si mesmo que certa manhã, caiu no lago e morreu afogado. No lugar onde caiu, surgiu uma flor, que chamaram de Narciso.
Mas não era assim que o autor do livro terminava a lenda.
Ele dizia que, quando Narciso morreu, vieram as deusas do bosque e viram o lago, que antes era de água doce, transformado num lago de lágrimas salgadas.
- Por que você chora? - perguntaram as deusas.
- Choro por Narciso - respondeu o lago.
- Ah, não nos espanta que você chore por Narciso - disseram elas. - Afinal de contas, apesar de sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você era o único que contemplava de perto sua beleza.
- Mas Narciso era belo? - perguntou o lago.
- Quem melhor do que você poderia saber disso? - disseram, surpresas, as deusas - Afinal de contas, era nas suas margens que ele debruçava-se todos os dias para contemplar-se!
O lago ficou quieto por algum tempo. Por fim, disse:
- Choro por Narciso, mas jamais notei que Narciso era belo. Choro porque, todas as vezes que ele se debruçava sobre minhas margens, eu podia ver - no fundo dos seus olhos - a minha própria beleza refletida.
" Que bela história ", pensou o Alquimista.
Paulo Coelho, O Alquimista, págs 17 e 18.
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